História

História

Um pouco sobre a Imigração Italiana…

A partir de 1861, o processo de unificação da Itália e sua incorporação à produção e ao mercado capitalista comprometeram as condições de vida das populações rurais italianas. O artesanato estava comprometido devido ao aumento da produção industrial; os pequenos arrendatários do norte da Itália sofriam com os altos aluguéis dos minifúndios (pequena propriedade rural); o aumento de impostos, a baixa fertilidade de terras e o serviço militar, que acabava afastando os jovens por alguns anos do trabalho nas terras, estavam dificultando cada vez mais a vida dos italianos.Camponeses do norte italiano, começaram a emigrar para Estados vizinhos em busca de melhores condições de vida. Por volta de 1873 que a Europa viveu sua primeira grande crise cíclica do capitalismo. Um tempo depois o fluxo imigratório de italianos para um Novo Mundo, a América, ganharia forma. A região norte, a mais atingida pela crise, foi a que forneceu o maior número de imigrantes, provenientes de regiões da Lombardia, Piemonte, Trento, Mântua, Bréscia, Vicenza, Vêneto, entre outros.

O embarque da maior parte dos imigrantes era feito no Porto de Gênova. Para a época, os navios que os transportava eram modernos e seguros, apesar de viajarem sobrecarregados e em terceira classe. Apesar de ser uma viagem difícil, a taxa de mortalidade a bordo era baixa. Depois de mais ou menos um mês sobre o Oceano Atlântico, enfim pisava-se em terra firme.

No Rio Grande do Sul…

A imigração italiana no Rio Grande do Sul, a partir de 1875, relaciona-se com o processo de troca da mão de obra escrava e à política de imigração e colonização implantada pelo governo brasileiro. Foi preciso ocupar terras vagas que surgiram em decorrência do rápido processo de urbanização, prover a mão de obra para a lavoura de café, além disso povoar e colonizar áreas consideradas improdutivas, principalmente na região sul do país. Estima-se que de 1875 a 1914 o Rio Grande do Sul tenha recebido cerca de oitenta mil imigrantes italianos.

Quando os imigrantes chegavam no Rio de Janeiro, passavam cerca de quarenta dias na Casa dos Imigrantes, localizada na ilha das Flores. As famílias geralmente não eram grandes, possuíam dois ou três filhos e era pequeno o número de imigrantes sozinhos e solteiros. Depois viajavam por mais ou menos dez dias até Porto Alegre, sendo que o transporte era feito em embarcações menores, onde depois seguiam seu destino rumo às colônias. As primeiras colônias  foram a de Caxias, Conde D`Eu (Garibaldi) e Dona Isabel (Bento Gonçalves). Em 1877 uma quarta colônia foi organizada, Silveira Martins, em região florestal no centro do Rio Grande e com passar dos anos outras colônias foram se formando.

A Colônia de Guaporé …

Os colonizadores da colônia de Guaporé eram oriundos principalmente das colônias Dona Isabel, Conde D`Eu e Veranópolis. Em 1885, o governo designou o Engenheiro Nicolau França Leite Pedreiros para medição dos lotes coloniais nessa região. Este trabalhou três anos e conseguiu medir aproximadamente dez mil lotes coloniais. Seu sucessor foi o Engenheiro José Montauri de Aguiar Leitão. A colônia de Guaporé instalou-se oficialmente em 1892.

A continuação do trabalho de medição coube aos engenheiros Barreto Leite e Vespasiano Rodrigues Corrêa. Medidos os lotes, começaram a chegar os colonos e estes eram assentados por Barreto e Vespasiano. A colônia de Guaporé prosperou rapidamente sob orientação da comissão de terras, que estava sob a chefia de Vespasiano. Em 1896 já estava ligada por telefone e correio, este vindo de Muçum, uma vez por semana feito por estafetas (carteiros).

A colônia de Guaporé era dividida em 22 linhas. A linha era um caminho estreito, traçado no meio da floresta virgem, através de todos os acidentes geográficos do terreno, exceto rios e afluentes. Cada linha tinha em média uma extensão de seis a sete quilômetros. Foram nas linhas que os imigrantes organizaram sua vida social e religiosa. Construíam suas casas à beira da linha, dos dois lados da estrada, uma casa sucedia outra, evitando assim o isolamento. Guaporé tornou-se município através do decreto nº 664, em 11 de dezembro de 1903, sendo sua instalação oficial em 1º de janeiro de 1904. Seu primeiro prefeito foi Vespasiano Rodrigues Corrêa.

De Linha 11 à Serafina Corrêa…

Entre as 22 linhas da colônia de Guaporé, encontrava-se a linha 11, que anos mais tarde se tornou o município de Serafina Corrêa. Esta teve como seus primeiros moradores José Franciosi, Orestes Assoni, Antônio Marin, João Variani, Achyles Cervieri, Anibal Fornari, Francisco Pan, famílias Soccol, Corso e Martineli . Esses pioneiros traziam em si um grande ideal e o desejo de fazer desta terra sua nova pátria.

Em 03/05/1911, de acordo com o ato 40, o Engenheiro Lucano Conedera, Intendente de Guaporé, usou das atribuições que lhe conferiu a Lei Orgânica do município e criou o distrito com a numeração cinco, tendo sede o povoado Dona Fifina Corrêa, com as seguinte divisões: ao norte, pelos fundos da linha Carlos Gomes (linha 16) com a General Osório (linha 9); ao sul, pelos fundos da linha Moreira César (linha 9) com a Marechal Floriano (linha 8) a leste pelo rio Carreiro e oeste pelo rio Guaporé. Porém em 09/06/1924, através do ato 39, o Coronel Agilberto Atílio Maia, Intendente de Guaporé, extinguiu o quinto distrito com a sede no povoado Dona Fifina Corrêa por motivos econômicos.

Devido a importância comercial e industrial que vinha se desenvolvendo no povoado Dona Fifina, em 07/01/1925 pelo ato 17, criou-se novamente o distrito, desta vez número oito, com sede no mesmo povoado. Mas em 17/10/1929, o coronel Agilberto extinguiu pela segunda vez, pelo ato 63. Em menos de um ano, 07/08/1930, criou-se o nono distrito de Guaporé com sede no mesmo local, o povoado Dona Fifina Corrêa. O Decreto Estadual nº 7.199 de 31/03/1938, elevou o povoado Dona Fifina à categoria de vila.

O desejo da emancipação deu origem a uma Comissão, que era composta pelo Presidente Pedro Soccol; Vice-presidente Guerino Antônio Massolini; 1º secretário Antônio Rotta, 2º secretário Nelson Assoni, 1º Tesoureiro José Modelski, 2º Secretário Armando Canton. Chegou-se a provar que Serafina representava 48% da arrecadação de Guaporé, daí as dificuldades da emancipação. Feito o processo, como determina a lei, foi encaminhado o mesmo à Assembleia Legislativa; aprovado pela Comissão de Constituição, foi à votação. Com a minoria, o projeto foi derrotado. Em cada votação batalhavam para coletar assinaturas de deputados, o suficiente para não ser arquivado, caso contrário teriam que começar desde o início.

O projeto era sempre derrotado, até que apareceu o pedido de emancipação de Nova Palma. Como a maioria da Comissão de Constituição da Assembleia Legislativa era do PDS, só aprovaria o pedido de Nova Palma, se aprovassem o de Serafina Corrêa.

Então, em 22/07/1960, pela lei nº 3.932, criou-se o município de Serafina Corrêa, constituído também pelos territórios de Montauri, parte de Vila Oeste, pertencentes ao município de Guaporé, e parte do distrito de Evangelista, pertencente ao município de Casca. Segundo o Art. 3º a Câmara seria composta de sete membros e de acordo com Art. 4º os mandatos do primeiro prefeito, vice-prefeito e vereadores extinguir-se-iam em 31 de dezembro de 1963.

Curiosidades do Município de Serafina Corrêa:
1916: Instalam-se bicos de luz à querosene; em 13 de janeiro é fundado o tiro de guerra 224, sendo presidente Pedro Zambenedetti e o instrutor o 2º Sargento Virgílio Cardoso, com tropa de 160 soldados.
1925: Nomeado Sr. Osvaldo Ribeiro para subintendente.
1926: Faz-se presente a agência do correio, sendo agente Vitório Rotta.
1930: 17 de novembro é determinado a assumir as funções de subintendente, o Sr. Edgar Feijó;
1942: Construído o novo prédio do Grupo Escolar Carneiro de Campos (atual Pré-Escolar Castelinho do Saber); Construída a subprefeitura (atual APAE);
1960: Inauguração do Ginásio Nossa Senhora do Rosário (atual Escola Rainha D`Paz) em 28 de fevereiro.
1962: Restos mortais do Pe. Luiz Pedrazzani são levados à Igreja Matriz em 31 de maio.
1965: Neve no município de Serafina Corrêa, 20 de agosto.
1966: Inauguração do Clube Familiar Serafinense (atual Salão Paulo VI), em 30 de outubro.
1987: Realiza-se a primeira Romaria, com Pe. Giovanni Simonetto, em 29 de maio.
1988: Desmembra-se Montauri pela Lei estadual n° 8.607 de 09 de maio; Lei Estadual 926 de 16 setembro cria o Distrito de Silva Jardim.

Ingrid Regina Castro
Responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Serafina Corrêa

Fontes:
Arquivo Histórico de Guaporé
Arquivo Histórico Municipal de Serafina Corrêa
COFCEWICZ, Geraldo. ZAMBENEDETTI, Dino. Serafina Corrêa: História e Estórias. D.C. Luzzatto Editora.;1988. 185 p.
MAESTRI, Mário. Breve História do Rio Grande do Sul: da Pré-história aos dias atuais. UPF Editora; 2010. 461 p.






Origem do Nome

Serafina Corrêa, Dona Fifina como era chamada carinhosamente por amigos, nasceu em 14 de maio de 1880 na Estância dos Vieira de Castro, atualmente pertencente à Reserva Ecológica do Taim, distrito de Rio Grande. Filha de Luiz Vieira de Castro e de Cantídia Corrêa Vieira de Castro, tinha uma única irmã de nome Clarinha. Seus dias, na infância e na adolescência, foram passados na tranquilidade da Estância do Salso,  hoje Estância Branquinha do Salso, em Rio Grande. Parte de seus estudos foram feitos no Colégio São José em São Leopoldo, dirigido pelas Irmãs Franciscanas de origem alemã.

Serafina Corrêa era uma mulher de personalidade forte, influente e decidida, era de feições delicadas e de porte elegante. Pertenceu a uma família de músicos, na qual ela mesma tocava violino. Casou-se com o Engenheiro Vespasiano Rodrigues Corrêa, na cidade de Rio Grande, logo após se transferiram para Porto Alegre, pois ele trabalhava na Secretaria de Obras Públicas como agrimensor, exercendo mais tarde um cargo de confiança no Governo Borges de Medeiros. Em 1899, Vespasiano Corrêa foi designado para um trabalho demarcatório de lotes, em Guaporé e em 1904, foi nomeado Primeiro Intendente do então município de Guaporé, emancipado em 1903.

Serafina era uma esposa romântica, bem humorada e voluntariosa, exercia grande influência sobre o marido. Quando o Intendente partia ou chegava de alguma viagem, ela convocava a Banda para tocar o Hino Nacional. Vespasiano Corrêa morreu aos 38 anos, na cidade de Pelotas, vítima de tuberculose. De seu casamento com Serafina nasceu um único filho, Luiz Vespasiano Corrêa, que estudou e casou-se nos  Estados Unidos.

Passados alguns anos, Serafina Corrêa casou-se, pela segunda vez, com o Deputado e Senador Idelfonso Simões Lopes, irmão por parte de pai do escritor gaúcho João Simões Lopes Neto. Após esse casamento, Serafina viveu no Rio de Janeiro, até seu falecimento em 23 de dezembro de 1945.

A passagem do casal Vespasiano e Serafina Corrêa por nossa região, embora curta, foi  política, social e culturalmente marcante. O nome do município é um reconhecimento e homenagem a essa mulher, digna de permanecer viva ao longo da história.

Fontes:

Arquivo Histórico Municipal de Serafina Corrêa

COFCEWICZ, Geraldo. ZAMBENEDETTI, Dino. Serafina Corrêa: História e Estórias. D.C. Luzzatto Editora.;1988. 185 p.

 


Serafina Corrêa, já viúva de Vespasiano

Casais Serafina e Vaspasiano Corrêa e Clarinha e Antonio Gonçalves Chaves

Serafina Corrêa e sua irmã Clarinha

Clarinha (esquerda), Serafina (direita),Dona Cantídia (mãe, sentada) e Ildefonso Simões Lopes, segundo marido de Serafina

Cinco geraçäes da família Corrêa – Dona Cantídea, Serafina, Luis Vespasiano (filho), Luis Fernando Davidson (neto) e Roberto (bisneto)

Serafina Corrêa e sua irmã Clarinha

Serafina e Vespasiano Corrêa

Serafina, Vespasiano e o filho Luis Vespasiano

Da esquerda para a direita: Vespasiano Corrêa, Luiz Vespasiano Corrêa e Serafina Corrêa.